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O AMOR ENTRE AS MULHERES

As mulheres gregas só se relacionavam com outras mulheres, logo não é estranho supor que muitas tenham encontrado afeto e prazer sexual com elas. Entretanto, nada se sabe a esse respeito.

Só temos informações de uma época anterior, o século VII a.C. Safo viveu na ilha de Lesbos e dirigia uma escola onde mulheres aprendiam música, poesia e dança. Ela se apaixonou por algumas dessas mulheres e manifestou o seu amor em poemas sensuais. "Sua poesia exerceu enorme influência sobre literatura erótica subsequente. E sobre a vida também: a maior parte dos sintomas de que os amantes têm sofrido, durante mais de talvez tanto material de condicionamento cultural como material para a biologia."

Safo escreveu cerca de 12 mil linhas, das quais somente 5% sobreviveram à queima de livros efetuada mais tarde pelos cristãos. Um poema que ele fez para uma de suas alunas, quando a moça ia deixá-la para se casar, mostra toda a sua dor de amor, com o ciúmes que a atormentava:

Semelhante aos deuses me parece esse homem
Felizes que se senta e te fita, estando tu diante dele
Bem de perto, no silêncio, ouve
tua voz tão doce.
Rindo o riso do amor, Oh! Isto, somente isto
Sacode o perturbado coração que há no meu peito, fazendo-o tremer!
Desde que eu possa ver-te por apenas um pequeno momento
Minha voz é imediatamente silenciada 
Sim, minha língua está partida; por todo o meu ser,
Sob minha pele repente desliza um fogo sutil;
Nada meus olhos veem, e uma voz, de ondas claríssimas
Em meus ouvidos ressoa
O suor escorre por meu corpo, um tremor se apodera 
De todos os meus membros, e, mais pálida do que a grama de outono 
Tomada pela angústia da morte que ameaça, eu desmaio

Perdida no transe do amor.

"Isto é algo novo, algo que não se encontra na vida primitiva, nem na poesia ou histórias primitivas. Isto é o começo do amor ocidental; por mais diversos que possam ser os casos de amor de Safo, os do homem e da mulher modernos, o certo é que os sintomas superficiais da paixão ainda são os mesmos." Os grandes médicos gregos, por conta da autoridade que tinha Safo, aceitaram a sua lista de sintomas, como se constituísse auxílio para a definição do diagnóstico.
Por volta do ano 300 a.C., por exemplo, Antíoco, filho de Seleuco, rei da Síria, apaixonou-se violentamente pela jovem esposa de seu pai, Estratonice. Não tendo esperança alguma de ser feliz, reprimindo seu amor secreto, resolveu fingir-se doente e morrer de inanição. Erasístrato, seu médico, reconheceu a natureza da enfermidade, mas nada poderia fazer sem descobrir de que mulher se tratava. Assim, Plutarco narra o episódio. 

Erasístrato que a presença de outras mulheres não produzia efeito algum nele. Quando, porém, Estratonice aparecia para vê-lo, como com frequência acontecia, só ou em companhia de Seleuco, Erasístrato observava no jovem todos os sintomas famosos de Safo: sua voz mal se articulava; seu rosto ruborizava, seus olhos olhavam furtivamente, um suor súbito irrompia através de sua pele; os batimentos do coração se faziam irregulares e violentos, e, incapaz de tolerar o excesso de sua própria paixão, ele tombava em estado de desmaio, palidez. Quando o médico expôs tudo isso a Seleuco, este deus de presente Estratonice a seu filho, em casamento - livrando-o daqueles sintomas para sempre. Porque tal era a natureza do amor, pelo menos como os gregos o celebravam: se amor culminava uma união final e permanente, os sofrimentos, e também os êxtases, se evaporavam. 

Apesar de suas preferências sexuais, Safo teve marido e filha. Segundo alguns autores, os homens vingativos teriam acrescentado uma narrativa para o final de sua vida. Foi-lhe atribuída uma paixão ardente por um homem chamado Fáon que, segundo o poeta Meandro (século IV a.C.), ele teria "perseguido com um amor furioso". Não sendo correspondido no seu amor, Safo teria se lançado ao mar do alto de uma rocha, suicidando-se.

Embora denegrida por alguns em função de seus amores, foi glorificada por seu talento. Desde a Antiguidade, foi chamada de a "décima Musa". Mesmo assim, seu nome será sempre ligado aos amores que ela contou, à homossexualidade.


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